Académicos defendem autonomia de estudantes para reduzir assimetrias em tempos de crise

2020-06-18
Debate em call de zoom

Investir na formação de docentes adequando-os para as diversas modalidades de ensino, introduzir novas metodologias de ensino centradas no estudante, apostar no investimento tecnológico e na produção de manuais de disciplinas para criar maior autonomia no ensino, são algumas das conclusões de um debate realizado nesta quarta-feira (17.06.2020), juntando académicos de vários quadrantes do mundo.

 

 Segundo os académicos que falavam num debate organizado pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Lúrio na Ilha de Moçambique, subordinado ao tema “os desafios das ciências sociais no contexto da COVID 19” e que contou com a participação de Moçambique, Angola, Brasil, Inglaterra e de estudantes moçambicanos em Portugal, a adopção de tais medidas por parte de instituições de educação superior poderá reduzir desequilíbrios e/ou desigualdades de ensino em tempos de crise globais. 

 

Elsa Rodrigues, Professora Auxiliar do Instituto Superior de Ciências de Educação de Benguela em Angola, uma das oradoras do evento, disse que, por exemplo, devido ao fraco investimento tecnológico na maior parte das instituições de ensino no seu país, quando foram introduzidas aulas a partir de plataformas online, como medidas de prevenção da Covid 19, “havia situações em que os alunos nem sabiam abrir um email, nem anexar um documento”. O ensino online é uma decepção quer para os docentes, quer para os alunos, uma vez que, segundo ela, “muitos deles, não tem acesso aos meios virtuais”. Defende então, uma política de acesso aos meios tecnológicos de baixo custo.  

 

Jóssimo Calavete, Director Adjunto Pedagógico da FCSH que também integrou a equipa de oradores, considera a capacitação de professores para que estejam preparados para as diversas formas e liberalização do ensino, no sentido de ser mais autónomo, criando mais independência aos estudantes, através da elaboração e disponibilização de manuais de disciplinas, o que pode concorrer para a não paralisação do processo de ensino em casos de emergência.  

 

Calavete propõe igualmente que os países adaptem uma política de educação em tempos de emergência que pudesse definir melhor as modalidades de ensino. “O ensino online nas modalidades actuais está a marginalizar certos estudantes por impossibilidade de equipamentos que tenham capacidades de aceder as aulas, além disso, os estudantes que frequentam cursos técnicos estão a ter certos problemas de aprendizagem, pelas plataformas que não oferecem mecanismos adequados”.

 

Instado a comentar no debate, Tobby Green do Kings College - Inglaterra, disse que as dificuldades enfrentadas no ensino online em Moçambique e Angola também foram registadas na Inglaterra. Todavia defendeu que a contínua melhoria da capacitação do corpo docente e o reforço do vínculo contratual existente entre o aluno e o professor, podem minimizar situações similares no futuro.

 

No que concerne aos participantes do debate de reflexão sobre os desafios das ciências sociais no contexto da COVID 19, estes levantaram diversas questões e propostas sobre como o ensino superior deve enfrentar crises. Defendendo, por exemplo, para além de potenciar o pessoal docente com capacitações na área digital, a necessidade das instituições de ensino superior transformarem a pandemia numa oportunidade de mudança de paradigma de ensino e a concepção de programas de acesso facilitado de computadores de baixo custo, quer para estudantes, quer para os professores.

 

O director da FCSH, Wilson Porfírio Nicaquela, disse que o evento havia sido organizado com o objectivo de trocar experiências sobre a gestão do processo de ensino e aprendizagem no pós-covid19, como contribuição das ciências sociais.

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