Artesanato

Nos tempos aúreos da Ilha de Moçambique, existiam inúmeros artesãos que se dedicavam a várias artes como a joalharia e o trabalho em filigrana (em retrocesso pela dificuldade de obtenção de matéria-prima), a construção de riquexós e de barcos.

O processo de fabricação de produtos de ourivesaria, principalmente jóias femininas, passa por diferentes fases. Por exemplo, a primeira etapa da preparação de artefactos de ouro, é a limpeza do mesmo com auxílio do íman para a retirada de impurezas. Este processo consiste em depositar o ouro num pedaço de madeira. Aproxima-se então um íman para atrair toda a limalha e impurezas de origem metálica, deixando assim o ouro purificado. De seguida acende-se o candeeiro e adiciona-se uma pequena porção de soda ao ouro limpo sobre uma pedra para fundi-lo, com auxílio do damí (uma espécie de tubo oco) que carrega o ar que se sopra da boca para avivar o fogo do candeeiro e fundir o ouro que se pretende trabalhar.

Joalharia
Imagem de ourives

Após este processo, leva-se o ouro já amolecido para a máquina de chapa (que serve para dar forma achatada ao metal) ou para a máquina de arame (para dar a forma de fio), dependendo da peça que se pretenda fabricar. 

Com efeito, todas as transformações exigem que o ouro passe pelo fogo para que seja moldado.

Os brincos de argorinha ou “moda bebé” de ouro, em forma de argolas, levam uma pequena bola oca.

Um factor que desencoraja a actividade é a grande escassez e elevado custo da matéria-prima, resultando numa certa estagnação ou até mesmo num recuo desta actividade na Ilha.

O ouro usado na joalharia provinha de alguns distritos do país como Nacala-à-Velha e Ribáuè na província de Nampula, Gilé na Zambézia e Sussundenga em Manica.

Eriquexó, da construção ao uso

O riquexó é um meio de transporte ou veículo de tração humana, em que uma pessoa, a pé, puxa uma carroça de duas rodas, com um ou mais bancos para acomodar os passageiros, muitas vezes utilizado para aluguer Inicialmente usado no transporte de passageiros (e considerado um acto de prestigio para os utilizadores) passou a transportar também mercadorias pela sua versatilidade.

O puxador do riquexó andava pela Ilha à procura de clientes, gritando insistentemente eriquexó, eriquexó. Os passageiros pagavam pelos serviços de transporte algum dinheiro ao puxador de riquexó que, por sua vez, o encaminhava aos proprietários, na sua maioria banianes (indivíduos de origem indiana). Com efeito, os locais trabalhavam como assalariados, auferindo, no final do mês, uma remuneração.

Na época colonial, algumas empresas de prestígio da Ilha usavam os seus serviços para o transporte de empregados ou funcionários, caso do Banco Nacional Ultramarino (BNU).

A construção de riquexó, entretanto desaparecida,  baseava-se numa associação de materiais locais como a madeira (do tipo m’bila (umbíla), mukurussi (pau-ferro), m’lope ou mulope e mokho, adquiridos na parte continental da Ilha, mais precisamente, em Nampula, Malema e Ribáuè), duas jantes de metal de bicicletas ou motorizadas e os respectivos pneus de borracha, molas, ferro, para além da pele de animais, napa e esponja no estofo dos assentos. O fabrico resulta, assim, da conjugação de conhecimentos e actividades interligadas, nomeadamente carpintaria, serralharia e estofamento, sendo o carpinteiro o principal responsável pela sua produção. A construção de um riquexó podia durar 90 a 120 dias, dependendo da disponibilidade do material e capacidade dos envolvidos na actividade.

Em 1975, com a Independência de Moçambique, o Governo interditou a actividade de riquexó, pois contrariava a ideologia e directrizes políticas de então. Deste modo, esta actividade e todos os conhecimentos e técnicas a ela associados entraram em declínio. Actualmente, já não se fabricam riquexós na Ilha de Moçambique e, os conhecedores desta técnica já quase que não existem. Não existe um único riquexó em circulação, podendo somente serem vistos alguns exemplares no Museu da Ilha ou no hotel que dá pelo mesmo nome.

Construção artesanal de barcos de pesca
Imagem de pessoa a construir um barco

A construção artesanal de barcos de pesca é uma actividade de vital importância para o sector pesqueiro, considerado primordial na estratégia de sobrevivência e nos meios de vida da população actual da Ilha de Moçambique. Esta consiste na confecção, conservação e reparação de embarcações tanto de peça única, denominadas canoas ou ekalawa, de vela, denominada ekalawa ya ntanga, como a motor, conhecida por showiyo.

A produção dos barcos de peça única é relativamente fácil e é executada com base no tronco de uma árvore, que pode ser cajueiro ou mangueira. É retirada a casca e depois escavado. Pode ter cerca de 4 a 5 metros de comprimento, e é usado sobretudo para pesca miúda, próximo à praia ou nos rios.

O barco a vela é mais complexo. Exige um conhecimento apurado sobre a flutuação dos materiais e consiste de uma costura de madeira. No fundamental, coloca-se a quilha, geralmente de pau-ferro, sobre a qual assenta a estrutura. Acima da quilha, é costurada a caverna, com base em jambirre e m’bila. Estas peças são tratadas de tal modo a possuírem a forma côncava, justamente aquela que uma embarcação de fabrico artesanal apresenta.

Sobre esta madeira, são atravessados bambus (milanze) na parte externa e pregadas, construindo-se desse modo a caverna.

Após a colocação dos bambus, esta estrutura é revestida de madeira, isto é, as perchas, que podem ser de m’bila. O tipo de madeira não importa tanto para as perchas, desde que seja uma madeira flexível. Entre as ligações das perchas, faz-se a calafetação, isto é, o enchimento das fendas entre as madeiras. Isto é feito através de algodão, e passa-se em seguida, uma massa resultante da mistura de tinta e cal. Para o acabamento, a embarcação é pintada com uma tinta de óleo, misturada com gasolina ou diesel.

O barco a motor é semelhante ao barco à vela,  sendo a diferença no aspecto da proa (mais achatada e aberta no barco a motor, para facilitar a colocação do equipamento).